Assim como a Meilin no Rio, a Maryanne em San Francisco e a Lucia Malla no Havaí (ops, tenho que fazer esse post da Lucia também!), em Buenos Aires também dá para fazer tours espertos, idealizados por um blogueiro brasileiro que leva em consideração os nossos interesses e mostra aspectos da cidade ignorados pelos tours padronizados.
O blogueiro brazuca-porteño em questão é o boa-pracíssima Túlio Bragança, do ótimo Aires Buenos Blog.
No finalz...
Uns tempos atràs, procurando inspiraçao na internet para as nossas viagens, eis que me deparo com algumas fotos de uma igreja que era quase “eterea”. Numa foto essa igreja poderia ser uma banal igreja maciça, mas nas outras fotos dava a impressao de que a igreja se diluia no ar, atè ficar transparente. Conforme o angulo da foto, a igreja era mais ou menos compacta. As fotos me deixaram muito impressionada e fui pesquisar onde fica esse lugar magico.
Eu jà estava esperando um lugar super remoto, daqueles onde dificilmente eu iria passar perto pelas proximas decadas. Ledo engano! Essa igreja fica na Belgica, quase na fronteira com a Holanda e com a Alemanha, a uma hora e meia de carro de Dusseldorf, pra onde vou todos os anos no mes de novembro. Felicidade define!
Quer dizer, a minha felicidade… Marido nao tava muito contente com a ideia, porque dirigir 3 horas no dia, com uma criança impaciente no carro, pra ver uma igreja em menos de meia hora era muito empenho pra pouco resultado. Mas o amor è lindo e là fomos nòs.
Essa igreja, na realidade nao è exatamente uma igreja: è uma obra de arte na forma de uma igreja, chamada “reading between the lines”, de dois arquitetos belgas Pieterjan Gijs e Arnout Van Vaerenbergh localizada nos arredores de Borgloon.
Chegar nessa igreja è uma aventura, nao existe nenhuma indicaçao, nenhuma placa, nada… Tivemos que parar duas vezes pra perguntar. E’ sò depois que voce encontra a igreja, que as indicaçoes sobre como chegar da casa de arte contemporanea (Z33) que promove a obra fazem algum sentido.
De qualquer modo, tem que estacionar o carro na beira da estrada, num espaço vazio mais amplo, que eles chamam de “estacionamento”; atravessar a rua e seguir a pè uns 5 minutos por uma trilha.
No inicio dessa trilha tem uma plaquinha indicando “Doorkijkkerkje”; è por ali. A trilha começa asfaltada, mas daì, do nada ela acaba. Antes que a vontade de mandar aquela igreja pra pqp te domine, respire fundo, e olhe ao redor. Ao longe dà pra avistar um pedaço da igreja, basta seguir em sua direçao mais alguns minutos pelo meio do mato.
A Doorkijkkerkje è bem menor do que eu esperava, è alta 10m, e realmente è muito empenho pra chegar. Mas se voce estiver passeando por aqueles lados e gosta de fotografia, è um lugar incrivel pra se visitar!
A principal razão que orientou a minha escolha de faculdade aqui no Canadá não foi qualidade de ensino (que nem tá aquelas coisa toda), e sim a perspectiva de voltar logo pro mercado de trabalho. Foi por isso que escolhi um curso que alternava entre semestres de estudo e do tal “co-op”, que é um semestre onde você faz estágio em alguma empresa. A treta é tão séria que a preparação pro co-op é assunto de uma das matérias do curso, com professor e nota e tudo.
Imagina, cara. Eu, já tendo um bacharelado no currículo, anos de experiência de trabalho, e morando num lugar onde tem Google, IBM, Microsoft, Amazon e um monte de empresa massa pra estagiar… eu não via a hora de chegar a hora do co-op.
Acontece que a minha procura por estágio foi mais ou menos assim…
Parte 1: De como fui indicado pra uma vaga no Google
Logo que começou a procura por trabalho eu não quis nem saber e comecei mirando alto: pesquisei as empresas onde eu queria trabalhar e fui descobrir como estagiar nelas. Naturalmente, a primeira empresa da lista era a primeira de 11 entre 10 engenheiros de software: o Google. Mas eu sabia que simplesmente jogar meu currículo no RH deles não seria suficiente, então tentei apelar para o meu networking e, sem o menor pudor, acionei tudo que era contato do Google que eu tinha no LinkedIn e demais redes sociais.
A chance era mínima, mas deu certo – um antiquíssimo conhecido do Twitter (sempre o Twitter!) encaminhou minha indicação e o RH de lá entrou em contato comigo. Fiquei empolgadíssimo.
A empolgação durou só uns três emails, onde eu e a mocinha do RH tivemos mais ou menos o diálogo a seguir:
– Recebemos o seu currículo, mas as vagas de estágio são para quem está cursando um bacharelado.
– Eu sei – respondi, cordial. O meu curso atual me dá como título um “advanced diploma”, mas eu já sou bacharel em Ciência da Computação, então creio que eu mais do que satisfaço as condições para esta vaga.
– Sim, mas as vagas são só para quem está em um curso que concede um bacharelado no fim.
– Entendo – insisti eu. Mas veja bem, eu já tenho o título de bacharel. Na verdade, no final do meu curso eu vou termais do que o que você pede pra vaga.
É claro que não deu certo. Mas não desanimei, afinal, na paralela do Google eu estava uma metralhadora de currículos, aplicando pra tudo que era vaga de desenvolvimento de software que eu via pela frente. Era questão de tempo até começarem a aparecer as entrevistas, pensava eu.
Parte 2: O silêncio do inbox
Todo dia, depois da aula, eu chegava em casa, pesquisava as vagas de estágio, separava as que interessavam, editava meu currículo para cada uma delas e escrevia uma carta de apresentação para cada uma delas– e só após passar uma ou duas horas pesquisando sobre a empresa na internet para personalizar a carta e demonstrar o maior interesse possível.
Enquanto isso, meus colegas iam recebendo os convites pra entrevistas. “É questão de tempo, daqui a pouco vão me ligar”, pensava eu. Os meus colegas começaram a ser contratados pras vagas onde fizeram entrevistas. Eu continuava mandando currículos, às dezenas, e… nada.
Algo errado com meu currículo, talvez? Não podia ser: ele foi formalmente avaliado pela “professora” do curso de co-op e eu tirei a nota máxima tanto pra ele quanto pra minha carta de apresentação. De fato, ele tava fuderoso: tinha meu GPA(1) altíssimo, tinha meu site, meus projetos pessoais, tinha minha experiência profissional canadense, tava lindão. Ainda assim marquei uma segunda reunião com a professora pra reavaliar o CV e ela continuou falando que tava bom. Os meus colegas contratados também revisaram meu material e também ficaram sem entender por que não me ligavam pra fazer entrevista. “Você é mais bem preparado que eu pra essas vagas”, disse um deles.
Um dia, tarde da noite, frustrado, abri meu currículo pela décima nona vez e, no meio da trigésima sétima revisão, me bateu um palpite bem maldoso. Mas achei que valia a tentativa. Decidi tirar duas coisas do CV:
Subitamente, o telefone começou a tocar e as entrevistas começaram a aparecer. Chegou ao ponto de me ligarem até depois que eu tinha sido contratado. Eu quero muito crer que a culpa era do meu site, e não do meu país de origem, mas acho que jamais saberemos…
Parte 3: As entrevistas
Ah, as entrevistas. Teve de tudo: tive que debugar scripts PHP no “bloco de notas” de um Mac com teclado desconfigurado, tive que escrever função recursiva pra imprimir árvore binária no campo de chat de texto do Skype, tive que programar à lápis em papel… e teve também as cagadas, tipo quando uma das entrevistadoras me perguntou:
– Que sites você lê pra se manter atualizado sobre tecnologia?
– Bem, eu leio bastante coisa. Atualmente eu ando acessando muito o Hacker News…
Mas ao invés de encerrar aí a resposta, eu fui tentar bancar o bonitão:
– …mas esse é bem comum, todo mundo lê.
– Pelo visto eu não sou “todo mundo” – respondeu a entrevistadora, com uma justificadíssima cara de cu.
Lá pela quarta ou quinta entrevista eu, finalmente, fui pegando o jeito. Mesmo porque o semestre de aulas estava acabando e eu precisava arrumar um estágio. O sarrafo de seleção de vagas já tava lá embaixo: eu tava mandando CV até pras vagas de – gasp! – gerente de projeto. E então, finalmente…
Parte 4: A contratação
No último post eu comentei que Eu tenho um lema de vida de que: que é extremamente negativo, mas que infelizmente se justifica todo santo dia: “expectativas levam à desapontamentos”. Lembra de quando eu comecei a caçar meu co-op, que eu tava pensando em Google e IBM? Acabou que nenhuma empresa quis me contratar.
A única vaga que me ofereceram foi no serviço público, numa divisão do Ministério da Justiça de Ontario. Em circunstâncias normais eu jamais mandaria meu CV prum lugar desses, mas a vaga pedia gente com experiência em desenvolvimento web, então lá fui eu, com a esperança de que pelo menos um Javascriptzinho eu ia fazer.
Como desgraça pouca é bobagem, eu ainda tive a desagradável surpresa de pedir pra minha futura chefe detalhar um pouco mais as responsabilidades da vaga, e eis que me chega uma lista que incluía coisas do tipo:
Eu comecei meu semestre falando com o RH do Google e terminei prestes a virar instalador de Windows.
Expectativa (esq.) vs. realidade (dir.). De fato, meu cabelo tá mais parecido com o do Moss…
Parte 5: o fim?
Talvez vocês tenham a impressão que eu tou mais fudido que a Dilma, que tá tudo dando errado e que tou chorando até dormir todo dia. Mas é exatamente o contrário. Se segura pro momento filosófico do post.
Aquele papo de “expectativa leva ao desapontamento” parece papo de pessimista, mas na verdade tem um viés inacreditavelmente positivo, que é o de tirar a sua cabeça do futuro (ou do passado) e botá-la de volta onde importa, que é o presente. Sonhar em estagiar no Google não adianta nada. Arrumar alguém pra te indicar pro Google é que pode fazer toda a diferença. No meu caso não fez, mas mesmo assim eu colhi vários efeitos colaterais da minha mini-obsessão em descobrir como as empresas contratam desenvolvedores. Descobri que tem um monte de empresa que imita o processo do Google. Descobri até que tem livros especializados em preparação para entrevistas de vagas para programadores. Pro meu próximo semestre de co-op, ao invés de chegar esperançoso, eu vou chegar é muito mais bem preparado.
Outro ponto importante é que, depois de levar muita porrada da vida, a gente aprende que sofrimento e infelicidade são duas coisas completamente diferentes. Eu já comentei aqui da Marina Abramovic, que diz que “você não cresce quando está fazendo o que gosta”. Quando fiz todo esse meu movimento de largar tudo e vir pro Canadá recomeçar uma carreira inteira eu não tinha expectativa de que seria fácil. E eu não alimento ilusões de que vai dar certo, por mais que eu trabalhe duro sempre tem um elemento fora do seu controle(2) e não tem nada que você possa fazer se a vida escolher não sorrir pra você. E no fim dela, ainda por cima, você vai estar morto. Então a única alternativa é extrair satisfação do seu próprio esforço, dar o seu melhor todo santo dia, e o que vier daí é isso mesmo, bom ou ruim.
Mesmo porque de vez em quando vem coisa boa. Por exemplo: esta semana eu comecei o meu bendito estágio de servidor público e – surpresa! – eu tou autorizado pela minha chefe a recusar demandas de TI, porque eles contrataram um help desk terceirizado justamente pra isso e querem usar meu tempo pra projetos mais interessantes. Mas, como de costume, não vou criar muita expectativa
Posfácio: Deus abençoe a Rainha
Como governo é igual em todo lugar do mundo, hoje é quarta e ainda não terminaram toda a papelada da minha contratação. No entanto já passei por uma etapa bastante importante: diante do meu gestor e de duas testemunhas, eu, solenemente, proferi o seguinte juramento de lealdade:
Eu juro que serei fiel e portarei lealdade verdadeira à Sua Majestade Elizabeth II, Rainha do Canadá, e seus herdeiros e sucessores. Com a graça de Deus.
Sem brincadeira. Isso foi, sem dúvida, a coisa mais fantástica de toda a minha carreira profissional.
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(1) GPA significa Grade Point Average – a média das suas notas. A minha é altíssima: 4.3, de um máximo de 4.5. Se eu me formar com essa média eu me formo com “high honors”, inclusive.
(2) Essa semana mesmo, para a mais profunda ironia do destino, deu na imprensa que o Canadá entrou em recessão. Saí da frigideira pra cair na fogueira
Minha cobaia para o cálculo proposto: a termelétrica do Pecém, o fóssil mais próximo... |
Mega, Giga, Tera, Peta, Exa... socorro! Calma... com esta tabela esperamos ajudar a quem estiver se atrapalhando com os números muito grandes que envolvem as mudanças climáticas! =) |
Os cálculos aqui mostrados se referem a UMA termelétrica. Mas são mais de 2000 delas emitindo CO2 planeta afora. Pensem, reflitam no tamanho do estrago... |
Desde 2001, nosso sistema climático acumulou ener- gia equivalente à explosão de quase 1,9 milhões de bombas de Hiroshima! |